domingo, 30 de janeiro de 2011

Fechado Por Tempo Indeterminado.

Nada no mundo poderia explicar o motivo daquele aviso com os dizeres “Fechado por tempo indeterminado”, impresso em tinta preta sobre folha de ofício branca que estampava a mais de uma semana o pesado portão de ferro do único açougue do bairro. As donas de casa do Bairro do Poço estavam às avessas com aquele desrespeito ao consumidor, tendo que atravessar o Beco do Sumiço – também conhecido como Boca do Sumiço por ser local de tráfico e consumo de drogas – para chegar ao supermercado mais próximo no bairro vizinho, o mal frequentado bairro da Fumaça, e aturar os preços muito superiores aos do Açougue do Irineu, que em 30 anos de tradição nunca havia fechado as portas. Porém agora completavam 7 dias desde que o ultimo cliente pôde sentir o cheiro de carne crua e suor de trabalho honesto que era inconfundível e que também fazia parte de 3 décadas de tradição.

O fechamento do impecável estabelecimento se deu assim da noite pro dia, naquela segunda-feira tudo ocorreu normalmente, o açougue fechou às 19 e pouquinho como de costume – seu Irineu sempre esperava pelos clientes que perdiam a hora – na praça, ninguém viu quando o aviso foi colocado, apesar de Zito que trabalha no boteco afirmar que viu seu Irineu passar rapidamente, com o vigor de seus 40 anos, e que ainda deu boa noite, e que ele respondeu e ainda acenou antes de continuar sua marcha apressada em direção ao Poço Velho, que lá estava a mais de 200 anos como diziam as lendas.

O fato é que depois desse dia Irineu Machado Jr. nunca mais foi visto. No início, vizinhos e clientes ficaram preocupados, acionaram a polícia que alegou que ele não poderia ter sido sequestrado pois sequestradores não deixam avisos em portas de estabelecimentos. Mesmo assim, no terceiro dia houve uma busca, e só puderam constatar que ele provavelmente havia feito uma viagem. Mas assim sem dizer nada? Deixando só um aviso na porta? E pra onde ele teria ido?
Depois do susto, a clientela ficou furiosa com o sumiço do açougueiro, e esperava ansiosa pela reabertura do estabelecimento para cobrar explicações e descontos de preço do pobre trabalhador desaparecido.

Diante desse acontecimento de proporções históricas, poucos deram atenção a outras notícias corriqueiras, como a do homem mascarado que havia sido visto duas vezes perto do Beco do Sumiço, e da prisão misteriosa de dois dos piores bandidos da região que eram procurados a anos e que foram deixados na frente da delegacia amarrados e estupefatos, e alegavam ter sido capturados por uma criatura enorme e escarlate que brandia um machado de açougueiro e se autodenominava “O Cutelo da Justiça”.

4 comentários:

  1. O Cutelo da Justiça vai dominar o mundo véio...BUSAHUSAHUSAUHSAUHAS

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  2. muito bom Cauê, adorei, fico querendo ler mais!!!

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  3. Muito bacana! também acho que vale uma continuação...Parabéns Cauê!!!! voltarei mais vezes aqui.
    Mirian(mira)

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